domingo, 14 de maio de 2017

Amostra segunda parte Os Últimos Dias de Krypton


Para uma experiência dessa magnitude, ele havia pensado em chamar o irmão que morava em Argo City. Embora poucos pudessem ter uma genialidade que se equiparasse à de Jor-El, seu irmão de cabelos escuros, Zor-El, apesar de seu mau humor ocasional, possuía a mesma ânsia de descobrir o que ainda precisava ser conhecido. Na duradoura e cordial rivalidade, os dois filhos de Yar-El sempre tentavam superar um ao outro. Depois daquele dia, se a experiência desse certo, ele e Zor-El teriam um novo universo inteiro para investigar.
Jor-El retirou outro cristal do painel de controle, o girou e o enfiou novamente. À medida que as luzes brilhavam e as cores se intensificavam, ele foi ficando inteiramente absorvido pelo fenômeno.
Isolado em suas salas abafadas na capital, o Conselho Kryptoniano de onze membros havia proibido o desenvolvimento de qualquer tipo de aeronave, eliminando efetivamente qualquer possibilidade de exploração do universo. A partir de registros antigos, os kryptonianos estavam muito conscientes da existência de outras civilizações nas 28 galáxias conhecidas, mas o governo repressor insistia em manter seu planeta afastado “para a sua própria proteção”. Essa regra tinha sido estabelecida havia tantas gerações que a maioria das pessoas a aceitava, como era de se esperar.
Apesar disso, o mistério por trás da existência de outras estrelas e planetas sempre intrigou Jor-El. Por não ser capaz de desobedecer às leis, não importa o quanto as restrições pudessem parecer frívolas, ele foi buscar caminhos que as contornassem. Porém, as regras não podiam impedir que ele viajasse em sua imaginação.
Sim, o Conselho não havia permitido a construção de espaçonaves, mas, de acordo com os cálculos de Jor-El, poderia haver um número infinito de universos paralelos, incontáveis Kryptons alternativas nas quais cada sociedade poderia ser levemente diferente. Jor-El poderia, portanto, viajar de uma nova maneira – apenas se pudesse abrir a porta para esses universos. Nenhuma espaçonave era necessária. Tecnicamente, ele não estaria desrespeitando nenhuma lei.
No centro do espaçoso laboratório, ele colocou um par de anéis de prata com dois metros de diâmetro para rodar e criar um campo de contenção para a singularidade que esperava criar. Em seguida, monitorou os níveis de força. E esperou.
Quando a energia solar intensificada atingiu seu pico, um feixe de luz controlada penetrou através das lentes do teto e foi parar no meio do laboratório de Jor-El como se fosse uma seta de fogo. Os raios multiplicados se reuniram em um único ponto de convergência e depois ricochetearam na própria textura do espaço. A rajada concentrada golpeou a própria realidade e abriu um buraco para algum outro lugar... ou para lugar nenhum.
Os anéis prateados de contenção se cruzaram, giraram ainda mais rápido e mantiveram aberta uma minúscula fenda que se expandiu em um equilíbrio de energia positiva e negativa. Enquanto aquela luz ofuscante fluía para dentro daquele pequeno ponto vazio, a fenda cresceu até ficar tão larga quanto a mão do cientista, depois atingiu o tamanho do seu antebraço, até que finalmente se estabilizou, com dois metros de diâmetro, estendendo-se até a borda dos anéis.
Um portal circular pairou no ar, perpendicular ao chão... algo que uma pessoa curiosa poderia simplesmente adentrar caminhando. Atrás daquela abertura, Jor-El sabia que poderia encontrar novos mundos para explorar, infinitas possibilidades.
Em um pedestal à frente do portal flutuante, o dispositivo cristalino de controle emitia um brilho quente e intenso. Para estabilizar o sistema volátil, ele retirou os cristais de força auxiliares e depois inclinou as parábolas de mercúrio para desviar o feixe principal de luz solar. A força se dissipou, mas a singularidade se manteve. O portal dimensional permaneceu aberto.
Deslumbrado, Jor-El deu um passo à frente. Ele já havia sentido muitas vezes a deliciosa emoção da descoberta, a onda do sucesso que vinha quando a experiência dava os resultados que estavam previstos ou, melhor ainda, quando algo maravilhosamente inesperado acontecia. Esse portal tinha o potencial de gerar ambas as situações.
Quando o estranho portal não oscilou, ele freou cuidadosamente a rotação dos anéis de prata, para que ficassem pairando verticalmente, imóveis, no ar. Embora o entusiasmo o tentasse a pegar atalhos, sua mente analítica sabia das coisas. Ele começou a fazer testes.
Primeiro, como se fosse uma criança jogando seixos em um lago tranquilo, pegou uma caneta que estava na mesa de trabalho e a jogou cuidadosamente dentro da abertura. Assim que o fino instrumento tocou na barreira invisível e nela penetrou, sumiu completamente e apareceu do outro lado, no outro universo. Só deu para Jor-El avistar um reflexo embaçado do mesmo, flutuando além do seu alcance. Mas ele não conseguia ver detalhes do estranho lugar que havia descoberto. E não via a hora de descobrir o que havia por lá.
Maravilhado, Jor-El se aproximou do portal vazio. Ele não via nada – absolutamente nada –, um vácuo insondável no ar. Desejou ter alguém do seu lado. Aquele grande momento devia ser compartilhado.
Ele gritou dentro da abertura.
Continua!!!

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